Padre Miguel: Leia a sinopse do Carnaval 2018
O Carnaval Carioca (12/05/2017)   



"O Eldorado Submerso: Delírio Tupi-Parintintin"

Justificativa do enredo:

Uma das premissas do G.R.E.S. Unidos de padre Miguel é acreditar que a escola de samba é veículo de conhecimento, “mensageira de verdades sobre o Brasil”, como diria Joãosinho Trinta. Por isso, há a preocupação de apresentar ano a ano enredos que tragam essa essência de brasilidade e que contribuam, assim, com o enriquecimento cultural da nossa comunidade. Temos o orgulho de anunciar para 2018 o enredo "O ELDORADO SUBMERSO: DELÍRIO TUPI-PARINTINTIN", um tema absolutamente nacional contado sob a ótica dos povos residentes à beira do RIO AMAZONAS e seus afluentes.

Entender a Amazônia é entender o Brasil. É geografia do mais puro sublime e esplendor. Mais que reservatório de biomas naturais, a Amazônia é também um imenso arcabouço de lendas. A partir de uma passagem do escritor manauara Milton Hatoum, a UPM nos convida para que bebamos todos das águas do Rio Amazonas, onde repousa o MITO DO ELDORADO. Não se trata, contudo, daquele Eldorado sob a visão dos viajantes europeus, que se utilizavam dessa metáfora para descrever a riqueza e a diversidade amazônicas. Nosso enredo dialoga com os povos indígenas e também com a população cabocla e ribeirinha que vivem às margens do rio. São esses povos que perpetuam, na fluidez das oralidades, a fábula de uma CIDADE MISTERIOSA que habita o fundo das águas doces. Cidade essa depositária de mistérios, seres fantásticos e causos indígenas sobre a criação do homem e do mundo.

A ordem para adentrar esse reino misterioso vem do PAJÉ (ou XAMÃ), o único com poder de transitar pelas funduras do rio, entre os encantados, durante os rituais da PAJELANÇA. A UPM entende a figura do índio como portador de uma SABEDORIA ANCESTRAL e necessária para a preservação da cultura local. Sabedoria essa que dialoga com a veneração e o respeito à natureza. Os índios detêm uma profunda capacidade de observação do seu mundo. Eles sabem a dimensão exata da comunhão entre água e terra; entre vida, morte e renascimento; entre homem e meio ambiente.

O Rio Amazonas, por sua vez, deságua nos enigmas do mundo, oferecendo interrogações sobre origens e destinos. Em meio a essa evidência, vamos tecer um inventário de imagens, vozes e falas desse saber imemorial amazônico para compor, na Sapucaí,diferentes poéticas sobre os arquivos da vida amazônica. São as memórias guardadas no TRONCOTUPI – raízes indígenas que se entrelaçam no lábio dos rios e fazem revelar as ENCANTARIAS do Eldorado submerso. Nossa escola se arvora dessa sapiência para propor um verdadeiro surto onírico, dentro do qual a cidadela misteriosa e desconhecida, revelada por meio de um mergulho, expande os limites da imaginação para trazer à tona uma tessitura de estórias fantásticas contadas pelas vozes indígenas.

Submergido, o caboclo constrói plasticamente sua paisagem ideal. É a partir do DEVANEIO que se faz explodir a imaginação. O ribeirinho é um viajante móvel, que navega as águas do Amazonas em busca de suas próprias origens. Porque água doce, sobretudo, é água mítica. Ela não exige lógica. Nosso desfile vai se lançar na navegação livre do DELÍRIO para fazer irromper a vida na Avenida. Olhemos, portanto, o horizonte para além das correntezas e admiremos esse lugar encantado, de atmosfera inebriante, opulente e exuberante. Vaguemos, destemidos, nesse imenso LABIRINTO AQUÁTICO repleto de VERTIGENS indígenas sobre o mundo, num fantástico convívio do homem com os seres outros.São histórias gravadas no pensamento, em um conjunto vasto de relatos que constituem o imaginário polifônico e multifacetado da Amazônia. São, em resumo, perspectivas indígenas encharcadas de poesia.

A cultura ribeirinha brilha – e a Amazônia ano a ano dança e festeja esse brilho. É quando a Cidade Misteriosa, o Eldorado submerso, se faz emergir no delírio carnavalesco da UPM. Tal qual uma vitória-régia, o Eldorado brota em plena Ilha de Tupinambarana, onde é realizada a disputa do boi-bumbá no festival folclórico de PARINTINS. O arrebatamento passa a ser real a partir do chamado do pajé. Assim, na fantasia que nos envolve e enfeita essa viagem, o enredo também exalta Parintins, nosso Eldorado erigido em plenas águas afluentes do Amazonas, no coração da floresta. Garantido e Caprichoso bebem das histórias do Amazonas e as propagam para que sejam realmente conhecidas por quem pouco ou nada sabe sobre a cultura do nosso país.

A festa do BOI-BUMBÁ iça a memória do folclore e faz as lendas indígenas serem ouvidas por multidões. É Parintins essa nova cidade encantada, que finca ano a ano a bandeira indígena na arena e mantém viva sua cultura e suas lendas. Numa liberdade lírica e poética, mito e realidade se entrelaçam para que, ao final do desfile da UPM, encontremos todos nós razões para viver melhor nessa GRANDE ALDEIA, bela e generosa, chamada BRASIL.

Sinopse do enredo:

"Muitos nativos e ribeirinhos da Amazônia acreditavam — e ainda acreditam — que no fundo de um rio ou lago existe uma cidade rica, esplêndida, exemplo de harmonia e justiça social, onde as pessoas vivem como seres encantados. Elas são seduzidas e levadas para o fundo do rio por seres das águas ou da floresta (…) e só voltam ao nosso mundo com a intermediação de um pajé, cujo corpo ou espírito tem o poder de viajar para a Cidade Encantada, conversar com seus moradores e, eventualmente, trazê-los de volta ao nosso mundo". [Milton Hatoum, em “Órfãos do Eldorado”]

1. Venha, sente aqui ao meu lado, vamos prosear um bocado. Não se acanhe, não tem perigo. Mas fale baixinho, isso. Não está ouvindo? É o som do silêncio. Isso mesmo, preste só atenção. Só quem canta nessas terras é o macucauá, a ave graúda cor de céu. Quem nos faz companhia é o rio, o Amazonas. E as estrelas lá de cima. Uma, duas, três, nossa, acho que as Três Marias também. Olha elas lá nos alumiando. Bonito, não? Também achei.

Na verdade, chamei você porque quero ir ao rio. Mas já não estás perto dele, homem? Sim, perto, mas não dentro. Quero mais que mergulhar. Quero ir além do murmúrio das águas. Imergir nessa imensidão. Quero adentrar toda sua profundidade. Prosa doida? Nunca ouviste falar na cidade que mora embaixo do Amazonas? Quem contava são os caboclos ribeirinhos daqui. Gente que vive rio abaixo, rio acima, nas palafitas do beiradão. São as histórias que eu ouvia quando brincava com os indiozinhos da aldeia, lá no fim da cidade. Há nessas terras um emaranhado de histórias assim, que habitam as curvas dos rios.

A calma que essas águas apresentam não passa de enganação. Vá se atrever a se embrenhar rio adentro pra ver que mistérios não se revelam dentro dele? É água que não está acessível a toda gente. Vagação para poucos. Isso porque só se entra aqui, na levada das águas, com a permissão do pajé. Só ele guarda a palavra criadora indígena e os segredos invioláveis dessa terra. Só o pajé autoriza se entranhar nas encantarias dessa floresta ao redor. Só o pajé transita no encante.

O rio fala. Ele conversa comigo, e eu só faço escutá-lo. Ouça de verdade, homem de Deus – não só com os ouvidos. Feche os olhos e perceba o chamado do curandeiro. Os bichos de fundo – botos, jacarés e sucurijus– vão nos levar corredeiras abaixo, duelando contra a fúria das correntezas, até chegar ao tão sonhado Eldorado. É bicho que não acaba mais. Preferi me agarrar no casco da tartaruga-yurará para mergulhar nesse curso d’água. Eu tremi profundo, de repente. Porque, veja bem: não é aquele Eldorado que os viajantes brancos costumam contar. É o que mora no fundo do rio: a Cidade Misteriosa do Amazonas.

Entre comigo rio abaixo. Observe as mamoranas frondosas, cheias de folhas e frutos. As árvores eram um montão demais. Um verdadeiro novo mundo. É a entrada da cidadela das águas abundantes, guardada por manoas. Índios arremessados para debaixo das águas e que se tornaram ancestrais. São sentinelas da memória indígena. Nos passadiços do Eldorado, uma multidão deles se apinha. Todos tingidos de pó de ouro, todos com o dourado derretido na pele. Todos guardiões da ancestralidade que cerca esse lugar abaixo da superfície.

Quem pode esperar coisa tão sem pé nem cabeça assim, me diga? Mas eu me alembro bem: o ouro invadia toda minha vista até turvar. Não sei quando se deu meu primeiro encantamento – talvez quando avistei Boiuna, a cobra-grande, cujos olhos faíscam como dois faróis. É ela a senhora das águas doces que repousa no fundo do rio e protege o Eldorado. A fera das águas que encandeia com seus olhos de fogo. Venha vê-la de perto, seu moço. É cobra enorme, assustadora mesmo, mas o senhor não há de ter medo. Tem que deixar que ela o abrace.

2. A linha da margem se rompeu. Meu delírio vagueia. Detenho a profundeza para guardar a memória. Porque, a bordo dessa viagem, carrega-se tudo: sonhos e lendas. Imergir nas águas significa regeneração, um novo nascimento. Eu mergulho para poder surgir de mim.

Já submerso, engolido no escorregar do tempo, alguma coisa trabalhava por arraigar minhas raízes, me aumentar a alma. Pro senhor que me ouve hoje, pode parecer uma extravagância. Mas eu digo: foi um salto muito grande no rumo da minha história. Quando olho o Eldorado, a memória dispara. Vozes dos antepassados saem da minha boca. Reconto tudo do meu jeito, amparado em narrativas dos que já se foram. Muitas dessas vozes são estórias sem escrita, vindas do nosso tronco tupi. Raízes arraigadas nas aldeias desse chão amazônico.

Não sei exatamente se foi quando abri os olhos no fundo, bem dentro das águas caudalosas, ou quando comecei a sentir a vida nova também por dentro do rio. Porque mergulhar o Amazonas adentro é nascer de novo. É assistir à criação de um novo mundo, de vários mundos que por aqui passaram. Um mundo de encantados invisíveis aos olhos dos mortais. Quem me pariu foi a água doce. O rio é meu umbigo. O Amazonas é o umbigo do mundo.

Nesse Eldorado irreal moram deuses e heróis indígenas de diferentes povos que até hoje regem nossos destinos. Muitas vozes vêm desse rio. Mundos se movem por aqui. A noite, por exemplo, contam que ela adormece dentro no coco de tucumã, envolta num véu cinzento. Quando as corujas cantam em vigília, duas luas se alternam para despertar a saudade dos amantes: Cairé e Catiti – lua cheia e lua nova. Sim, eu me aluei para não trevar o coração. Cujubins anunciam a chegada do sol, que certo dia se transformou em pássaro para libertar a água doce, presa nos potes sagrados da criação. É o mesmo sol que, em outros povos, chegou a duelar contra onças agourentas para não perder seu brilho próprio. É o mesmo sol que, quando soprou a água, fez formar todo esse rio. Só os xamãs são capazes de fazer sol e lua descerem embaixo das águas para fazê-los dançar no Eldorado. É a profundidade do rio que faz surgir a dimensão delirante da miragem.

A cidade subaquática é também a comunhão com os encantados dessa terra. Rios fios de água, que caminham nos atalhos da mata. A vida dessa gente da floresta é rica em contos e quimeras. Cada ser que habita aqui é cheio de sabedoria. Mesmo no lanço demasiado das correntezas, a água carrega memória. São histórias gravadas no pensamento, no mais fundo da gente, renovadas o tempo todo pelos xamãs. Entre pirarucus e peixes-boi, Yara habita em seu castelo enfeitiçado e repleto de enamorados. Tua beleza é a própria melodia. As águas daqui são guardadas por Naoretá, a mãe-cachoeira, que um dia fora libertada pelos pica-paus da ira proferida por Arekuaion. Está vendo lá em cima? É Mapuí, a cobra-arco-íris, liga de água e céu. Coaciaba, o beija-flor encantado, alça seu primeiro voo em meio à revoada de borboletas, que guardam a ancestralidade dos que já se foram para dançar a liberdade. Vagalumes-estrelas pincelam o firmamento infinito desse nosso imaginário. Pirilampos, vagalumes, lindos. Tão pequeninos no ar, no alto e distante, indo e vindo. São constelações de alegria.

3. Não é possível saber se a infinitude do rio fez rebentar em mim uma febre delirante de sensações. Impossível descrever em palavras toda a beleza e esplendor que habitam a margem abaixo. Mas eu lhe pergunto: como cursar essas correntezas sem fluidez, numa água que não para, pilotado pelo rio que zonzeia a mente? Como –explique o senhor – conseguir me alevantar desse delírio em direção à terra firme? Águas, terras e lembranças do imaginário: o Amazonas engole tudo, seu moço. Sei apenas de uma coisa: submergido, me tornei outro homem.

Neste grande caminho inundado pela abundância, o rio se apressa. Ele ouve o chamado do pajé, o único que tem o poder de levar e trazer ribeirinhos da fundura das águas doces. É chegada a hora de regressar. No trilho das águas profundas, um grito ressoa. Lanças, arcos e flechas se erguem na mata. É o xamã curandeiro que encanta a aldeia nos rituais da pajelança. Está na hora de o pajé nos trazer de volta ao mundo.

Depressa, enxugue os olhos e venha ver. Vem ouvir o som que vem da floresta. É dia de ritual em Tupinambarana, terra dos tupinambás. Ilha da fantasia banhada pelo Amazonas. Os parintintins estão em festa. Venha se alumbrar com um povo que revive, num grande espaço a céu aberto, todas as lendas depositadas no Eldorado encantado. Autoridade maior, o pajé brada aos céus para invocar os espíritos e profetizar, em pleno coração amazonense, o esplendor sobrenatural do santuário indígena. Somente ele, xamã encantador de mundos, pode reviver em terra os mistérios depositados no fundo do rio. Só o pajé detém a magia do cachimbo de tauari.

Nunca conheci coisa mais bonita. Não tem como separar o sagrado do real. Ouviste? São novamente os segredos dos antepassados, profanados desde os tempos imemoriais e que habitaram o espaço amazônico no decorrer do tempo. Os mesmos segredos depositados no segredo das águas e que hoje são cantados por multidões em sons de toadas, tocadas e cantadas de um jeito caboclo. Sinta seu corpo no calor dessa emoção. Num transe, a pajelança pede permissão ao senhor dos animais e ordena a metamorfose dos bichos: que dancem as cabas, as sumaumeiras, as arapongas e tucandeiras! Linda morena, com rosto de criança, gira sem parar ao sabor do vento. Entoam-se os tambores para embalar cunhãs-porangas, tuxauas, sinhazinhas e porta-estandartes. Evocam-se espíritos ancestrais junto dos brincantes em busca de paz na terra entre os homens de boa vontade. Em frente à batucada, chega animada a turma mais querida do boi-bumbá. Ê,vem brincar no boi, que essa dança não pode parar!

Rio caudaloso, de águas barrentas, que banha a ilha dos tupinambás. Eldorado um dia inundado, Eldorado que hoje emerge das águas – Parintins é o novo paraíso, a Cidade Encantada um dia submersa no Amazonas e que ano a ano é erigida no coração da floresta, tal qual a vitória-régia nos rasos da Amazônia. Parintins, essa meiga flor amazônica! Um Eldorado içado pela força do povo, verdadeiro guardião desse inventário de imagens, vozes e falas guardadas na sabedoria ancestral.

Parintins é a estrela das águas, a nova Cidade do Ouro. Reescreve o imaginário coletivo do povo ribeirinho recontando as lendas zeladas pelos pajés guerreiros. Preservar a cultura é preservar o próprio homem. Caprichoso e Garantido, azul cintilante e carmesim encarnado, vão duelar na arena. Azulados da Francesa se confrontam ano a ano com os perrechés da Baixa do São José na Festa do Boi-Bumbá para reativar memórias indígenas sobre nosso mundo. Em Parintins, os deuses encantados suplicam: não deixe que dizimem esse nosso chão.

Seus espelhos d’água resplandecem história. E a mágica que surge de dessa arte deságua num rio-mar de encantos. Assistir ao espetáculo de Parintins é adentrar novamente o labirinto delirante do Eldorado subaquático. A ancestralidade nos dá essência como verdadeiros filhos desse chão. Somos todos igaras dessas águas. Somos entes da selva e seiva das matas. Somos todos Amazônia. Parintins é história viva, que carrega o coração do povo em defesa da cultura e da tradição. O boi-bumbá segue até hoje o rastro deixado pelas lendas do pajé, cuja missão maior é proteger nossa terra. Viva o boi-bumbá! Viva o folclore brasileiro!

Mas é bom o senhor prestar bastante atenção. Em 2018, essa disputa ganha um novo tom. São bois por demais “Unidos” numa só bandeira: a vermelha-urucum e branca-marupá das terras de Padre Miguel. Ouve só esse canto guerreiro que vem lá da Vila Vintém.

Aí a nossa noite começa.

A Milton Hatoum, pela inspiração.
A João Gustavo Melo, pelo norte.
A Joãosinho30, pela liberdade ao delírio.

Carnavalesco: João Vitor Araújo
Pesquisa e texto: Daniel Targueta

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA:
BACHELARD, Gaston. “A poética do devaneio”. São Paulo: Martins Fontes, 1988.
BOFF, Leonardo. “O Casamento entre o céu e a terra: contos dos povos indígenas do Brasil”. Rio de Janeiro : Mar de Ideias, 2015.
FARIAS, Júlio Cesar. “De Parintins para o mundo ouvir: na cadência das toadas dos bois-bumbás Caprichoso e Garantido”. Rio de Janeiro: Litteris, 2007.
HERKENHOFF, Paulo. “Pororoca: a Amazônia no mar”. Rio de Janeiro: MAR – Museu de Arte do Rio, 2014.
KOPENAWA, Davi; ALBERT, Bruce. “A queda do céu: palavras de um xamã yanomami”. São Paulo: Companhia das Letras, 2015.
LOUREIRO, João de Jesus Paes. “Cultura amazônica: uma poética do imaginário”. Belém: Cejup, 1995.
MINDLIN, Betty. “Mitos indígenas”. São Paulo: Ática. 2006.
PRANDI, Reginaldo. “Encantaria Brasileira: O livro dos mestres, caboclos e encantados”. Rio de Janeiro: Pallas, 2004.
QUENTIN, Laurence; REISSER, Catherine. “Às margens do Amazonas: no Brasil, os caboclos entre o Brasil e a Venezuela, os ianomâmis no Equador, os otavalos”. São Paulo: Companhia das Letras, 2010.
RODRIGUES, João Barbosa. “Poranduba amazonense, ou kochiyma-uaraporandub, 1872-1887”. Rio de Janeiro: Typ. de G. Leuzinger& Filhos, 1890.
SUZANO, João de Matos. “Brincando de boi em Parintins”. Manaus: Grafiisa, 2006.
VAL, Vera do. “A criação do mundo e outras lendas da Amazônia”. São Paulo: Martins Fontes, 2008.

Palavras aos compositores e compositoras da Vila Vintém:

O enredo de 2018 da Unidos de Padre Miguel reflete um profundo respeito às tradições indígenas e amazônicas. Nosso tema busca a criatividade que sabemos existir em todos vocês. Entregamos as palavras nesta sinopse para que o samba da UPM espalhe, para muito além, as histórias do povo caboclo e indígena do Norte. São histórias e estórias gravadas no mais fundo do pensamento. Contos que, assim como o Festival de Parintins, protegem a floresta e seus habitantes. Nosso desfile quer que todos conheçam o que os antigos ensinaram. Afinal, são palavras guardadas desde sempre, desde os tempos mais remotos. Viajem, portanto, nas sugestões da sinopse. Criem e se inspiremno que há de mais belo para nossa aguerrida escola.Oferecemos aqui um pequeno glossário com explicações de alguns termos utilizados no texto. Mas, por favor, não se sintam na obrigação de reproduzir toda a linguagem local nos seus hinos. Sejamos todos andarilhos desse delírio tupi-parintintin para levar a Vila Vintém ao tão almejado título. E que Mearatsim, o Senhor da Música na mitologia tupari, os ilumine para que tenhamos um belo samba-de-enredo. Desejamos a todos boa sorte!

Macucauá – Ave amazônica com piado característico
Beiradão – Forma como os ribeirinhos chamam a beira do Rio Amazonas
Vagação – Viagem
Encante – Mundo encantado
Sucuriju – Sucuris
Yurará – Como são chamadas as tartarugas pela população indígena ribeirinha
Mamorana – Árvore amazônica com folhas e flores muito amplas
Manoas– Tribo indígena amazônica
Passadiços – Corredores
Boiuna – Figura mitológica indígena toma a forma de cobra e mora no fundo do rio
Tucumã – Palmeira que atinge até 15 metros de comprimento
Tronco tupi – Nome de uma toada parintintin
Cujubim – Pássaro que canta para a manhã chegar
Naoretá – considerada a mãe das cachoeiras, na visão dos povos tuparis
Arekuaion – o pajé tupari que amaldiçoou Naoretá
Coaciaba – O primeiro beija-flor, segundo a oralidade das tribos mauês
Tupinambarana – Ilha rodeada pelo Rio Amazonas
Parintintin – Forma como são chamados os nativos de Parintins
Tauari – madeira extraída de grandes árvores da floresta amazônica
Alumbrar –Deslumbrar(-se), maravilhar(-se)
Toada –Música do boi-bumbá
Caba – Vespa amazônica
Sumaumeira – Árvore gigantesca das florestas inundáveis
Araponga –Ave amazônica cujo canto lembra um som metálico
Tucandeira–Formiga amazônica carnívora, agressiva, dotada de grandes ferrões
Cunhã-poranga – Termo usado em Parintins para mulher bonita da tribo
Tuxaua –Chefes das tribos, caboclo da Amazônia
Sinhazinha –Um dos personagens de destaque na apresentação dos bois em Parintins
Porta-estandarte – Responsável por conduzir o estandarte do boi. Simboliza a tradição e a sabedoria indígenas
Carmesim –Vermelho
Azulados – Nome dos torcedores do Boi Caprichoso
Francesa – Referência ao Largo da Francesa, concentração em Parintins dos torcedores do Caprichoso
Perrechés – Nome dos torcedores do Boi Garantido
Baixa do São José – Reduto em Parintins do Boi Garantido
Igara – espécie de canoa leve, feita de tronco de árvore
Urucum – Sumo vermelho extraído do urucuzeiro e comumente usado pelos índios para pintar o corpo
Marupá – Árvore de madeira branca

Volta