Jacarezinho aposta no amor de Cartola e Dona Zica como enredo
O Carnaval Carioca (17/05/2017)   

"O cântico do poeta pelo amor de Euzébia" será o enredo que o Unidos do Jacarezinho vai apresentar na Série B no Carnaval 2018. O tema é uma carta de amor do poeta Cartola para a sua eterna musa Euzébia (Dona Zica), inspirado em manuscritos deixados pelo compositor.

O texto do escritor e historiador Vinicius Natal, que será desenvolvido pelo carnavalesco Eduardo Gonçalves, já foi aprovado pela neta do casal, Nilcemar Nogueira, atual secretária de cultura da prefeitura do Rio.

- Nossa comunidade está num bairro que é considerado o segundo maior da América Latina em população e frequentemente os moradores ocupam as páginas policiais dos jornais diários. Contar uma história de amor legítima é a forma mais atual de se levar esperança e alegria para um povo carente de histórias reais desses sentimentos - explicou o carnavalesco, que vai para o seu décimo primeiro trabalho à frente da escola.

As fantasias e os cenários alegóricos irão retratar a paixão de um poeta por sua musa e amada, a sua esposa que foi muitas vezes inspiração para suas canções. A ideia é apresentar na Intendente Magalhães um Carnaval onde todos possam acreditar que é possível sim fazer com que o amor puro e verdadeiro seja uma grande fonte de energia positiva e que só faça o bem para todas as pessoas nesse dia.

Confira a sinopse do Jacarezinho, que será a oitava agremiação a desfilar na terça-feira de folia:


 
"O Cântico do poeta pelo amor de Euzébia"

 

Era como se eu pudesse parar o tempo.

O mundo, moinho por seu eixo, girava quase nulo.

Eu, ao altar, mudo. Você, em renda branca, lúcida, mas muito rosa do meu jardim.

Tão rosa que desacatou as azaleias para reinar. Calou os espinhos para embelezar.

Esvaziou os copos de leite. Tu reinavas.

Eu, ali, criança, cirandava você.

Nossa infância das bolas de gude, das pipas. Das latas d'água.

Das lavadeiras. Das cantigas de roda.

Naquele tempo, ainda éramos dois.

E eu, passarinho, passarinhava você.

A alvorada mais bela e tenra.

Por que não um ninho, mesmo que dentro de nós?

Por que não um bar - ra -co para remarmos sós?

O tempo passou.

Eu, sonhador, sempre sonhava você.

Mesmo sem te ver, sentia o conforto e a cumplicidade.

Fiz-me espinho ferido. Duvidei. Chorei.

Acovardei- me. Precisava de você... precisava de você...

Que chegou com o velho jeito manso.

Secando o pranto. Luz e acalanto.

Enrubesci. Vivi.

Cresci. Cedi.

Foi você quem tirou as nuvens da estrada.

Pediu licença para cantarmos em um novo tom.

Sonhamos e amamos juntos nossa Mangueira.

Fizemos, ali, uma linda família.

O Zicartola foi nosso enlace para o mundo.

Doces sabores que brotavam dos sons.

Sons que ecoavam a luta vermelha.

Vermelho que explodia de amor em nosso cúmplice olhar.

- Quer casar comigo?

Sim, e houve festança demais.

Chuva de arroz demais.

Samba, miudinho, na sola do sapato, demais.

Foi um ato. De amor, um ato.

Depois, saímos velozes dali para um lugar que nem nós saberíamos.

Éramos, enfim, um só.

A sua doçura e liderança.

Nossa poesia e canção.

Hoje o mundo é seu, Zica.

E eu sou seu, alegre pequena.

Enfim, o mundo é nosso.

Agora, dou-te um beijo.

Cartola

Texto e pesquisa: Vinícius Natal

Argumento de enredo: Eduardo Gonçalves e Vinícius Natal

Carnavalesco: Eduardo Gonçalves

 

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